quarta-feira, 7 de junho de 2017

Exploração sexual de meninas em Londrina revela "machismo patriarcal", alerta promotora

A 'ponta do iceberg' de um grande caso que marcou Londrina neste ano veio à tona no dia 20 de janeiro, quando policiais do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) prenderam o então auditor da Receita Estadual, Luiz Antônio de Souza, em um conhecido motel de Londrina, na zona sul, na companhia de uma adolescente de 15 anos. 

Na época, o Ministério Público (MP) divulgou que ele foi detido com cerca de R$ 25 mil e parte do dinheiro (R$ 2,5 mil) iria ser pago para a menina em troca de um programa sexual. A irmã da menor, apontada como a aliciadora do esquema, também foi detida no motel.


O caso, que assusta quando contado sozinho, foi apenas um de diversos investigados pelo MP neste ano. Os trabalhos contra o megaesquema de exploração sexual de adolescentes, descoberto no meio de uma investigação da Operação Publicano, enquadrou empresários conhecidos, ex-agentes públicos e homens que, até então, eram considerados "cidadãos de bem" nas rodas de amigos, colegas de trabalho e familiares. Mais de 40 pessoas, entre contratantes desses programas e aliciadoras, já foram denunciadas à Justiça por estupro de vulnerável, quando o abuso envolve meninas menores de 14 anos, e exploração sexual. O número de vítimas, de até nove anos, também é enorme, conforme as investigações. "Agora, essa investigação tem que evoluir para a condenação desses acusados e, principalmente, à prevenção desse tipo de ocorrência", destacou a promotora da 6ª Vara Criminal de Londrina, Suzana de Lacerda, responsável por denunciar os suspeitos.

Segundo ela, a sociedade tem o costume errôneo de responsabilizar e culpabilizar as meninas exploradas. "Elas são tratadas como objetos, mercadorias e está tudo bem para a maioria das pessoas... Podemos fazer um paralelo da situação dessas garotas com os meninos que têm a mesma idade delas e estão no tráfico de drogas. É muito difícil mostrar para esses adolescentes, que nunca tiveram oportunidades na vida, que eles precisam realizar um trabalho lícito, e isso é mal visto pela população", argumentou.



A faixa etária desse grupo, conforme a promotora, é marcada "pelos muitos desejos, pressão por aceitação em grupos e a inconsequência". "Eles não pensam na consequência de suas atitudes e precisam ser orientados. Essa orientação passa, diretamente, pela oferta de políticas públicas adequadas, acesso à saúde e à educação, valorização profissional, entre outros pontos", argumentou.

Já em relação especificamente às adolescentes, a alteração precisa ser social. "A mudança precisa atingir essa visão machista e patriarcal que a gente tem das coisas. Não podemos ser mais tolerantes com esse tipo de discriminação e desvalorização", completou.

Suzana também garantiu que as investigações relacionadas ao megaesquema de exploração sexual estão longe de acabar. Os próximos inquéritos do caso, segundo ela, devem ser concluídos pelo delegado do Gaeco, Alan Flore, no próximo mês. Já os novos passos da apuração serão tocados pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), da Polícia Civil, que passou a contar com uma delegada própria nas últimas semanas.

Fonte: www.bonde.com.br

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