A 'ponta do iceberg' de um grande
caso que marcou Londrina neste ano veio à tona no dia 20 de janeiro, quando
policiais do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco)
prenderam o então auditor da Receita Estadual, Luiz Antônio de Souza, em um
conhecido motel de Londrina, na zona sul, na companhia de uma adolescente de 15
anos.
Na época, o Ministério Público (MP) divulgou que ele foi detido com cerca
de R$ 25 mil e parte do dinheiro (R$ 2,5 mil) iria ser pago para a menina em
troca de um programa sexual. A irmã da menor, apontada como a aliciadora do
esquema, também foi detida no motel.
O caso, que assusta quando
contado sozinho, foi apenas um de diversos investigados pelo MP neste ano. Os
trabalhos contra o megaesquema de exploração sexual de adolescentes, descoberto
no meio de uma investigação da Operação Publicano, enquadrou empresários
conhecidos, ex-agentes públicos e homens que, até então, eram considerados
"cidadãos de bem" nas rodas de amigos, colegas de trabalho e
familiares. Mais de 40 pessoas, entre contratantes desses programas e
aliciadoras, já foram denunciadas à Justiça por estupro de vulnerável, quando o
abuso envolve meninas menores de 14 anos, e exploração sexual. O número de
vítimas, de até nove anos, também é enorme, conforme as investigações.
"Agora, essa investigação tem que evoluir para a condenação desses acusados
e, principalmente, à prevenção desse tipo de ocorrência", destacou a
promotora da 6ª Vara Criminal de Londrina, Suzana de Lacerda, responsável por
denunciar os suspeitos.
Segundo ela, a sociedade tem o
costume errôneo de responsabilizar e culpabilizar as meninas exploradas.
"Elas são tratadas como objetos, mercadorias e está tudo bem para a
maioria das pessoas... Podemos fazer um paralelo da situação dessas garotas com
os meninos que têm a mesma idade delas e estão no tráfico de drogas. É muito difícil
mostrar para esses adolescentes, que nunca tiveram oportunidades na vida, que
eles precisam realizar um trabalho lícito, e isso é mal visto pela
população", argumentou.
A faixa etária desse grupo,
conforme a promotora, é marcada "pelos muitos desejos, pressão por
aceitação em grupos e a inconsequência". "Eles não pensam na
consequência de suas atitudes e precisam ser orientados. Essa orientação passa,
diretamente, pela oferta de políticas públicas adequadas, acesso à saúde e à
educação, valorização profissional, entre outros pontos", argumentou.
Já em relação especificamente às
adolescentes, a alteração precisa ser social. "A mudança precisa atingir
essa visão machista e patriarcal que a gente tem das coisas. Não podemos ser
mais tolerantes com esse tipo de discriminação e desvalorização",
completou.
Suzana também garantiu que as
investigações relacionadas ao megaesquema de exploração sexual estão longe de
acabar. Os próximos inquéritos do caso, segundo ela, devem ser concluídos pelo
delegado do Gaeco, Alan Flore, no próximo mês. Já os novos passos da apuração
serão tocados pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), da
Polícia Civil, que passou a contar com uma delegada própria nas últimas
semanas.
Fonte: www.bonde.com.br
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